Banco de Alimentos

terça-feira, dezembro 07, 2010

Carta do Zé agricultor para Luis da cidade.

"Minha posição em relação a esse texto será dada amanhã. Ruralistas se acham donos da razão. Insistem em dizer que não desmatam nem degradam o ambiente. É importante mencionar, que eles não são os únicos responsáveis, afinal, tu separa o lixo de casa, economiza no consumo de água, consumo de energia elétrica???
Bom, continuo amanhã. Boa noite." 
Segue o texto.





Excelente texto leia até o final, vale à pena!
O texto é fictício, mas os fatos são muito reais!


Carta do Zé agricultor para Luis da cidade
A carta a seguir - tão somente adaptada por Barbosa Melo - foi escrita por 
Luciano Pizzatto que é engenheiro florestal, especialista em direito sócio 
ambiental e empresário, diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 
88/89, deputado desde 1989, detentor do 1º Prêmio Nacional de Ecologia.
Carta do Zé agricultor para Luis da cidade



Prezado Luis, quanto tempo. 
Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o 
transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? 
Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de 
meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava. 



Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. 
Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e 
com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite.
De 
madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só 
vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis? 


Pois é. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês. Não 
que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que 
acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos ai da cidade. To 
vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio 
ambiente. 



Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que 
parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos 
daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os 
postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança. 


Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas 
um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e 
pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser 
verdade, né Luis?
Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né.) contratei Juca, filho 
de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo 
direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos 
de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do 
sindicato e da
Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar 
leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia 
trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana 
ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo 
calendário?
Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche 
tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encompridar uma cama, só 
comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no 
quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter 
luz boa no quarto do Juca. 


Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer 
parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, 
desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas 
leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele 
foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levou 
ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do 
trabalho para acudi-lo.
Depois que o Juca saiu, eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 
5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da 
cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou 
aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.
Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do 
chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que 
derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e 
ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei 
que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns 
trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive 
que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as 
vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me 
prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luis, 
ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né? 



Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do 
rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com 
mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não 
sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A 
pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá 
errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água 
fedida e lixo boiando pra todo lado.
Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato 
agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa 
Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, 
então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da 
casa.
Fui ao escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no IBAMA 
da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um 
laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu 
pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. 
Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do 
Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi 
o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.
Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 
mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio 
numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da 
ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não 
quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é 
pra todos.
Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da 
venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu 
tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só 
depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que 
tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca 
é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de 
nós, os criminosos aqui da roça. 



Até mais Luis. 
Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe 
por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio. 





(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados 
verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o 
tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio 
urbano.)

domingo, dezembro 05, 2010

Só de Sacanagem

Ouvi no DVD da Ana Carolina, é um texto de Elisa Lucinda. Após ouvi-lo fiquei sem palavras. Segue o link no YouTube, para que todos possam, além de ler, ouvi-lo também.

"Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
" - Não roubarás!"
" - Devolva o lápis do coleguinha!"
" - Esse apontador não é seu, minha filha!"
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
“ - Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.”
E eu vou dizer:
”- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”
Dirão:
" - É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
E eu direi:
” - Não admito! Minha esperança é imortal!”
E eu repito, ouviram?
IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final."

- Elisa Lucinda

sexta-feira, novembro 19, 2010

O Sonho

"Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz. 

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas."






- Clarice Lispector

quinta-feira, outubro 07, 2010

Aos 85 anos, 'pai' do Código Florestal de 1965 puxa orelha dos que dizem que a lei não teve base científica


O assunto mais importante da pauta ambiental hoje no Brasil é a revisão do Código Florestal. O tema é a capa da nossa próxima edição, que sai na próxima segunda-feira (04/10). Mas, para dar um gostinho dela, segue aqui uma pequena história que acabou ficando de fora da revista. E só ficou de fora porque aconteceu depois do fechamento. Foi na quarta-feira (29/04), no debate “O Código Florestal e os serviços ambientais: Quais as implicações das alterações propostas?”, no Instituto Florestal de São Paulo.
Para quem não acompanha a questão, essa é a lei que estabelece a proteção das florestas e das demais formas de vegetação natural do país. Em processo de alteração no Congresso, ela já sofreu várias acusações improcedentes, desde impedir a expansão da agropecuária até a de ter nascido na base da “canetada” no início da ditadura militar e, o que é pio, sem embasamento científico.
Se para a primeira alegação vários pesquisadores têm se esforçado em mostrar que há espaço de sobra para o setor agrícola crescer, para a segunda, há talvez apenas um engenheiro agrônomo que possa rebater a crítica com propriedade, e conhecimento de causa. Aos 85 anos, Alceo Magnanini é o único remanescente do grupo de seis pessoas, designado pelo presidente Jânio Quadros em 1961, que ao longo de três anos elaborou o projeto que levou ao atual código.
Em sua apresentação, Magnanini lembrou a árdua tarefa que foi levantar todo o conhecimento científico existente no início da década de 1960 para formular o projeto que viraria lei em 1965, pelas mãos de Castelo Branco. “Não nos faltou elemento técnico para decidir. A primeira norma do grupo era apreciar o código de 1934 [primeira lei florestal do país, que praticamente não teve nenhum efeito] e atualizar o que fosse interessante de acordo com todos os conhecimentos técnicos que pudéssemos auferir”, conta.
“E isso levou anos, com duas a três reuniões por semana. Lógico que não podia levar toda a comunidade acadêmica para a discussão… mas foi tudo discutido”, complementa, para logo depois contra-atacar. “Agora eu devolvo a pergunta: qual é o fundamento científico que baseia essa modificação do código?”
A pergunta foi justamente o que motivou a reportagem de capa da nossa próxima edição, que começa a circular na segunda-feira. Para entender o que está em jogo, ouvimos mais de uma dúzia de cientistas. Só quando já estávamos fechando, porém, tivemos acesso a Magnanini. Enquanto a matéria mostra bem a problemática atual, ele completou o quadro com a contextualização histórica.
Na época da formulação do código, lembra Magnanini, biodiversidade não era exatamente a preocupação do momento. “Não se falava nisso, nem em ‘ambiental’. O termo só surgiu na conferência de Estocolmo, em 1972 [Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, da ONU], da qual participei como integrante da representação brasileira.” O foco principal era o fornecimento de água. Já se tinha a noção de que sem floresta, os recursos hídricos escasseiam.
Mesmo assim, segundo Magnanini, já havia uma visão mais ampla nesse grupo, formado também por Roberto Melo Alvarenga, então vice-presidente do Conselho Florestal Estadual de São Paulo, e Henrique Pimenta Veloso, engenheiro agrônomo do Rio de Janeiro, além dos juristas Adelmy Cabral Neiva, Bernardo Daine e o desembargador federal Osny Duarte Pereira, autor do livro Direito Florestal Brasileiro.
“Havia pesquisas mostrando que três metros de APP (área de preservação permanente) eram suficientes para proteger encostas dos rios. Mas só se pensava na encosta. Estávamos falando de florestas de preservação permanente. A mata ciliar não era só para evitar a erosão da beira do rio, mas estávamos pensando em um conceito de ecologia, que tudo está interligado, fauna, flora, o ser humano, e todo um complexo que envolvia solos, água, etc.”
Para ele, há espaço para mudanças na lei, mas não da forma como vem sendo feita, e com isso concordaram também os outros dois participantes do debate, o biólogo Alexandre Martensen, secretário municipal de Agricultura, Meio Ambiente e Turismo de Guapiara (SP),  e a engenheira florestal Maria José Brito Zakia, da Práxis Socioambiental, e o mediador Valdir de Cicco, pesquisador do Instituto Florestal.
“É possível mudar o código em cima de um debate feito por nós (academia, pesquisadores, etc), não por Brasília, nem pela bancada ruralista. Tem de ter amplo debate”, disse Magnanini. “Mas eu mesmo nunca fui consultado. A mudança simplesmente foi apresentada para nós.”
O agrônomo afirma que o grande problema é que nunca houve fiscalização adequada para que o código vigente pudesse funcionar. Segundo ele, os que propõem a alteração prevista no Congresso Nacional “alegam que o código até agora não foi executado. Então querem mudar. Oras, por que não foi executado? Por falta de fiscalização, de vontade política. Mas fazendo essas modificações vai ter fiscalização ou vai continuar da mesma maneira? Se com as restrições atuais, não se consegue [controlar o desmatamento], vai se conseguir abrindo as pernas? Quando abre a porta do galinheiro, entra a raposa.”
Ele compara o caso com a mudança, anos atrás, da cor das chapas dos carros. “Antes só os carros do governo tinham chapa branca. Ocorreu um monte de escândalo, era o cara na feira com o carro chapa branca, nas férias… Então mudaram a lei, e todo mundo passou a ser chapa branca. Resolveu o escândalo. Estão fazendo o mesmo com o código florestal.”
O agrônomo defende que, mesmo os pequenos agricultores, que estão sendo usados como justificativa para alteração da lei, iriam preferir uma alteração diferente. “Ele vai optar por uma mudança no código que favoreça a vida dele e não essa que vai praticamente extinguir o pequeno agricultor. Diminuir isso [a proteção da floresta] para aumentar a terra dele? Grande coisa… E depois o que ele vai fazer com a lixiviação e com a erosão da terra que ele ganhou?”

sábado, julho 24, 2010

Do Código Florestal para o Código da Biodiversidade




Por * Aziz Nacib Ab’Saber

Em face do gigantismo do território e da situação real em que se encontram os seus macro-biomas – Amazônia Brasileira, Brasil Tropical Atlântico, Cerrados do Brasil Central, Planalto das Araucárias, e Pradarias Mistas do Brasil Subtropical – e de seus numerosos mini-biomas, faixas de transição e relictos de ecossistemas, qualquer tentativa de mudança no “Código Florestal” tem que ser conduzida por pessoas competentes e bioeticamente sensíveis. Pressionar por uma liberação ampla dos processos de desmatamento significa desconhecer a progressividade de cenários bióticos a diferentes espaços de tempo futuro. Favorecendo de modo simplório e ignorante os desejos patrimoniais de classes sociais que só pensam em seus interesses pessoais, no contexto de um país dotado de grandes desigualdades sociais. Cidadãos de classe social privilegiada, que nada entendem de previsão de impactos, não têm qualquer ética com a natureza. Não buscam encontrar modelos técnico-científicos adequados para a recuperação de áreas degradadas, seja na Amazônia, seja no Brasil Tropical Atlântico, ou alhures. Pessoas para as quais exigir a adoção de atividades agrárias “ecologicamente autossustentadas” é uma mania de cientistas irrealistas.

Por muitas razões, se houvesse um movimento para aprimorar o atual Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território. Remetemos essa idéia para Brasília, e recebemos em resposta que essa era uma idéia boa, mas complexa e inoportuna (...). Entrementes, agora outras personalidades trabalham por mudanças estapafúrdias e arrasadoras no chamado Código Florestal. Ousamos criticar aqueles que insistem em argumentos genéricos e perigosos para o futuro do país, sendo necessário, mais do que nunca, evitar que gente de outras terras, sobretudo, de países hegemônicos venha a dizer que fica comprovado que o Brasil não tem competência para dirigir a Amazônia (...). Ou seja, os revisores do atual Código Florestal não teriam competência para dirigir o seu todo territorial do Brasil. Que tristeza, gente minha.

O primeiro grande erro dos que no momento lideram a revisão do Código Florestal brasileiro – a favor de classes sociais privilegiadas – diz respeito à chamada estadualização dos fatos ecológicos de seu território especifico. Sem lembrar que as delicadíssimas questões referentes à progressividade do desmatamento exigem ações conjuntas dos órgãos federais específicos, em conjunto com órgãos estaduais similares, uma Polícia Federal rural e o Exército Brasileiro. Tudo conectado ainda com autoridades municipais, que têm muito a aprender com um Código novo que envolve todos os macro-biomas do país, e os mini-biomas que os pontilham, com especial atenção para as faixas litorâneas, faixas de contato entre as áreas nucleares de cada domínio morfoclimático e fitogeográfico do território. Para pessoas inteligentes, capazes de preverem impactos em diferentes tempos do futuro, fica claro que ao invés da “estadualização”, é absolutamente necessário focar para o zoneamento físico e ecológico de todos os domínios de natureza do país. A saber, as duas principais faixas de Florestas Tropicais Brasileiras: azonal amazônica e azonal das matas atlânticas; o domínio dos cerrados, cerradões e campestres; a complexa região semiárida dos sertões nordestinos; os planaltos de araucárias e as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, além de nosso litoral e o Pantanal Mato-grossense. 

Seria preciso lembrar ao honrado relator Aldo Rabelo, que a meu ver é bastante neófito em matéria de questões ecológicas, espaciais e em futurologia – que atualmente na Amazônia Brasileira predomina um verdadeiro exército paralelo de fazendeiros que em sua área de atuação tem mais força do que governadores e prefeitos. O que se viu em Marabá, com a passagem das tropas de fazendeiros, passando pela Avenida da Transamazônica, deveria ser conhecido pelos congressistas de Brasília, e diferentes membros do Executivo. De cada uma das fazendas regionais passava um grupo de cinquenta a sessenta camaradas, tendo a frente em cavalos nobres, o dono da fazenda e sua esposa, e os filhos em cavalos lindos. E, os grupos iam passando separados entre si, por alguns minutos. E, alguém a pé, como se fosse um comandante, controlava a passagem da cavalgada dos fazendeiros. Ninguém da boa e importante cidade de Marabá saiu para observar a coluna amedrontadora dos fazendeiros. Somente dois bicicletistas meninos, deixaram as bicicletas na beira da calçada olhando silentes a passagem das tropas. Nenhum jornal do Pará, ou alhures, noticiou a ocorrência amedrontadora. Alguns de nós não pudemos atravessar a ponte para participar de um evento cultural.

Será, certamente, apoiados por fatos como esse, que alguns proprietários de terras amazônicas deram sua mensagem, nos termos de que “a propriedade é minha e eu faço com ela o que eu quiser, como quiser e quando quiser”. Mas ninguém esclarece como conquistaram seus imensos espaços inicialmente florestados. Sendo que, alguns outros, vivendo em diferentes áreas do Centro-Sul brasileiro, quando perguntados sobre como enriqueceram tanto, esclarecem que foi com os “seus negócios na Amazônia” (...). Ou seja, através de loteamentos ilegais, venda de glebas para incautos em locais de difícil acesso, os quais ao fim de um certo tempo, são libertados para madeireiros contumazes. E, o fato mais infeliz é que ninguém procura novos conhecimentos para reutilizar terras degradadas. Ou exigir dos governantes tecnologias adequadas para revitalizar os solos que perderam nutrientes e argilas, tornando-se dominadas por areias finas (siltização). Entre os muitos aspectos caóticos derivados de alguns argumentos dos revisores do Código, destaca-se a frase que diz que se deve proteger a vegetação até sete metros e meio do rio. Uma redução de um fato que por si já estava muito errado, porém agora está reduzido genericamente a quase nada em relação aos grandes rios do país. Imagine-se que para o Rio Amazonas, a exigência protetora fosse apenas sete metros, enquanto para a grande maioria dos ribeirões e córregos também fosse aplicada a mesma exigência. Trata-se de desconhecimento entristecedor sobre a ordem de grandeza das redes hidrográficas do território intertropical brasileiro. Na linguagem amazônica tradicional, o próprio povo já reconheceu fatos referentes à tipologia dos rios regionais. Para eles, ali existem, em ordem crescente: igarapés, riozinhos, rios e parás. Uma última divisão lógica e pragmática, que é aceita por todos os que conhecem a realidade da rede fluvial amazônica.

Por desconhecer tais fatos os relatores da revisão aplicam o espaço de sete metros da beira de todos os cursos d’água fluviais sem mesmo ter ido lá para conhecer o fantástico mosaico de rios do território regional. Mas o pior é que as novas exigências do Código Florestal proposto têm um caráter de liberação excessiva e abusiva. Fala-se em sete metros e meio das florestas beiradeiras (ripario-biomas), e, depois em preservação da vegetação de eventuais e distantes cimeiras. Não se pode imaginar quanto espaço fica liberado para qualquer tipo de ocupação do espaço. Lamentável em termos de planejamento regional, de espaços rurais e silvestres. Lamentável em termos de generalizações forçadas por grupos de interesse (ruralistas).

Já se poderia prever que um dia os interessados em terras amazônicas iriam pressionar de novo pela modificação do percentual a ser preservado em cada uma das propriedades de terras na Amazônia. O argumento simplista merece uma critica decisiva e radical. Para eles, se em regiões do Centro-Sul brasileiro a taxa de proteção interna da vegetação florestal é de 20%, por que na Amazônia a Lei exige 80%? Mas ninguém tem a coragem de analisar o que aconteceu nos espaços ecológicos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, e Minas Gerais com o percentual de 20%. Nos planaltos interiores de São Paulo a somatória dos desmatamentos atingiu cenários de generalizada derruição. Nessas importantes áreas dominadas por florestas e redutos de cerrados e campestres, somente o tombamento integrado da Serra do Mar, envolvendo as matas atlânticas, os solos e as aguadas da notável escarpa, foi capaz de resguardar os ecossistemas orográficos da acidentada região. O restante, nos “mares de morros”, colinas e várzeas do Médio Paraíba e do Planalto Paulistano, e pró-parte da Serra da Mantiqueira, sofreram uma derruição deplorável. É o que alguém no Brasil – falando de gente inteligente e bioética – não quer que se repita na Amazônia Brasileira, em um espaço de 4.200.000 km2

Os relatores do Código Florestal, falam em que as áreas muito desmatadas e degradadas poderiam ficar sujeitas a “(re)florestamento” por espécies homogêneas pensando em eucalipto e pinus. Uma prova de sua grande ignorância, pois não sabem a menor diferença entre reflorestamento e florestramento. Esse último, pretendido por eles, é um fato exclusivamente de interesse econômico empresarial, que infelizmente não pretende preservar biodiversidades. Sendo que, eles procuram desconhecer que para áreas muito degradadas, foi feito um plano de (re)organização dos espaços remanescentes, sob o enfoque de revigorar a economia de pequenos e médios proprietários: Projeto FLORAM. Os eucaliptólogos perdem ética quando alugam espaços por trinta anos, de incautos proprietários, preferindo áreas dotadas ainda de solos tropicais férteis, do tipo dos oxissolos, e evitando as áreas degradadas de morros pelados, reduzidas a trilhas de pisoteio, hipsométricas, semelhantes ao protótipo existente no Planalto do Alto Paraíba, em São Paulo. Ao arrendar terras de bisonhos proprietários, para uso em 30 anos, e sabendo que os donos da terra podem morrer quando se completar o prazo, fato que cria um grande problema judicial para os herdeiros, sendo que ao fim de uma negociação as empresas cortam todas as árvores de eucaliptos ou pinos, deixando miríades de troncos no chão do espaço terrestre. Um cenário que impede a posterior reutilização das terras para atividades agrárias. Tudo isso deveria ser conhecido por aqueles que defendem ferozmente um Código Florestal liberalizante.

Por todas as razões somos obrigados a criticar as persistentes e repetitivas argumentações do Deputado Aldo Rebelam, que conhecemos há muito tempo, e de quem sempre esperávamos o melhor. No momento somos obrigados a lembrar a ele, que cada um de nós tem que pensar na sua biografia, e, sendo político, tem que honrar a historia de seu partido. Mormente, em relação aos partidos que se dizem de esquerda e jamais poderiam fazer projetos totalmente dirigidos para os interesses pessoais de latifundiários.

Insistimos que em qualquer revisão do Código Florestal vigente, devem-se enfocar as diretrizes através das grandes regiões naturais do Brasil, sobretudo domínios de natureza muito diferentes entre si, tais como a Amazônia, e suas extensíssimas florestas tropicais, e o Nordeste Seco, com seus diferentes tipos de caatingas. Trata-se de duas regiões opósitas em relação à fisionomia e à ecologia, assim como em face das suas condições socioambientais. Ao tomar partido pelos grandes domínios administrados técnica e cientificamente por órgãos do Executivo Federal, teríamos que conectar instituições específicas do governo brasileiro com instituições estaduais similares. Existem regiões como a Amazônia que envolve conexões com nove Estados do Norte Brasileiro. Em relação ao Brasil Tropical Atlântico os órgãos do Governo Federal – IBAMA, IPHAN, FUNAI e INCRA – teriam que manter conexões com os diversos setores similares dos governos estaduais de Norte a Sul do Brasil. E assim por diante. 

Enquanto o mundo inteiro repugna para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico, fato observado por muitos críticos em diversos trabalhos e entrevistas.
Parece ser muito difícil para pessoas não iniciadas em cenários cartográficos perceber os efeitos de um desmatamento na Amazônia de até 80% das propriedades rurais silvestres. Em qualquer espaço do território amazônico que vem sendo estabelecidas glebas com desmate de até 80%,haverá um mosaico caótico de áreas desmatadas e faixas interpropriedades estreitas e mal preservadas. Nesse caso, as bordas dos restos de florestas, interglebas ficarão à mercê de corte de árvores dotadas de madeiras nobres. E, além disso, a biodiversidade animal certamente será profundamente afetada.

Seria necessário que os pretensos reformuladores do Código Florestal lançassem sobre o papel os limites de glebas de 500 a milhares de quilômetros quadrados, e dentro de cada parcela das glebas colocasse indicações de 20% correspondentes às florestas ditas preservadas. E, observando o resultado desse mapeamento simulado, poderiam perceber que o caminho da devastação lenta e progressiva iria criar alguns quadros de devastação similares ao que já aconteceu nos confins das longas estradas e seus ramais, em áreas de quarteirões implantados para venda de lotes de 50 a 100 hectares, onde o arrasamento de florestas no interior de cada quarteirão foi total e inconsequente.

*Aziz Nacib Ab’Saber é Geógrafo, Geólogo, Ecólogo e Professor Emérito da USP

**Este texto é parte integrante da Revista Eco 21, edição 164, de julho de 2010, em circulação nas bancas.

quarta-feira, março 17, 2010

Novidades

Bom, depois de muito tempo, retorno ao meu blog. Com informações novas.
Estou de mudança para Pelotas, vou ir morar com minha irmã. Passei na Universidade Federal de Pelotas, UFPel, isso mesmo, passei. Fiz o ENEM apenas para tentar uma bolsa no curso de Engenharia Ambiental da ULBRA, mas para minha tristeza,não abriu, logo, iniciaram as incrições para o SISU. Tentei e passei, mas para Engenharia Agrícola, um curso que sempre me chamou a atenção, mas nunca tinha feito pois era difícil demais e se eu rodasse em alguma cadeira seria dinheiro posto fora. Como tentei numa federal, se eu rodasse não pagaria nada.
Eu realmente não esperava ver meu nome no listão. Agora estou muito satisfeita, e vou me embora.
Atualizarei meu blog mais vezes.
Abraços

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Primeiro post!

Bom, começamos o ano, o tal ano de 2010 que era esperado, o ano da Copa!
Não vejo importancia nenhuma na Copa, por isso, comentários sobre este evento serão mínimos. O ano começou bom, tive a melhor virada da minha vida, nunca pensei que Absolut e Energético seriam uma combinação tão boa, sai da casinha dia primeiro.
Já mencionei a virada, entretanto, o que move minha vida é o estágio. Terminamos o Relatório Ambiental de Canguçu e começamos o de Palmeira das Missões, fiquei craque em Escudo Sul-Riograndense, agora vou para o outro lado do Estado, o chamado Planalto. Por mais que esteja tudo muito calmo aqui na Secretaria o trabalho tá pegado.
Desejo a todas as pessas um Feliz Ano Novo, com muitas realizações, muita paz, amor, saúde e sucesso. O resto a gente corre atrás.